Em qualquer estratégia de investimento bem elaborada, a dimensão risco deve ser integrada ao processo decisório. Adicionalmente, o risco deve estar consistente com os objetivos e com o propósito final do investimento. Neste contexto, o seguro de vida pode ser utilizado como um instrumento de proteção um hedge.
Quando consideramos não só o lado "ativo" da equação investimentos em fundos, ações etc, mas também o "passivo" gastos obrigatórios de uma família, o seguro de vida permite equilibrar necessidades de longo prazo com ocorrências de curto prazo. Na essência, é uma opção a ser exercida na ausência de renda (risco de vida) ou no atingimento de determinada idade/valor resgatável (acumulação). Em uma abordagem integrada, expandemse as possibilidades de planejamento financeiro.
Parte significativa dos investimentos realizados pelas famílias tem relação com a realização de
projetos futuros, ou seja, tem propósitos de médio e longo prazos. Alguns, como adquirir a casa própria ou custear a educação superior dos filhos, exigem
anos de aportes e disciplina de acumulação.
Apesar de grande parte dos investidores no Brasil preferirem investimentos mais conservadores renda fixa responde por 87% do total de ativos de fundos no varejo poucos
se preparam para a ausência do principal provedor ou mesmo para uma interrupção temporária de renda. Ainda pensamos mais no risco do investimento do que no risco do
investidor.
Atualmente, o seguro de vida no Brasil corresponde a cerca de 2% do PIB, à frente da maioria dos países latino americanos, como Colômbia (1,3%), México (1,0%), e Argentina (0,5%). Por outro lado, temos muitas oportunidades quando analisamos os números de países desenvolvidos, como Reino Unido (7,8%), França (6,2%) e EUA (4,6%).
O exemplo da penetração de seguro de vida nos EUA, por volta de 60% da população, versus de 10% a 15% no caso brasileiro, revela que ainda somos uma sociedade "subprotegida".
Adotando uma abordagem mais essencialista para os investimentos com propósito de longo prazo, precisamos lidar tanto com o risco de longevidade, geralmente coberto por soluções de previdência e/ou produtos de vida e acumulação, quanto com o risco da morte prematura ou interrupção de renda, cobertos por seguros de vida.
Assim, por exemplo, quando um jovem profissional recémcasado e com filhos pequenos inicia sua jornada de investimentos, suas reservas tendem a ser reduzidas e sua ausência precoce demanda um valor de cobertura de risco mais elevado. Já para profissionais maduros, as reservas acumuladas ao longo da vida devem cobrir parte relevante das necessidades, demandando relativamente menos da cobertura de risco.
Assim, uma estratégia de investimentos que considera de forma mais abrangente o risco pode ser implementada de duas formas. A primeira é pelo uso combinado de soluções clássicas de investimento (fundos, títulos de renda fixa, ações, etc), além de previdência, somados a um seguro de vida risco. Em linguagem financeira, este seguro de vida pode ser visto como uma
opção do tipo "put", para cobrir o evento da falta de fluxo de renda do principal mantenedor da família. Mesmo para interrupções temporárias de renda por acidente, por exemplo, o mercado já conta com seguros tecnicamente conhecidos como DIT (Diárias de Incapacidade Temporária).
Já para fazer frente a despesas com doenças graves, que podem desequilibrar o orçamento até mesmo de pessoas com reservas significativas, o mercado segurador também disponibiliza cobertura específica.
A segunda é pelo uso de produtos híbridos, que combinam em uma única contratação uma parcela destinada ao risco e outra associada a formação de reserva. Um exemplo comum em muitos países é o chamado "universal life", que permite inclusive o uso dos recursos acumulados para pagar o prêmio de risco mensalmente, mesmo quando o cliente não consegue manter as contribuições regularmente. Normalmente, este tipo de produto possui
flexibilidade para que a distribuição entre cobertura de risco e reserva de acumulação seja ajustada para os diferentes perfis de clientes e fases da vida.
O seguro de vida arrecadou R$ 34 bilhões em prêmios em 2016, com crescimento de 9,7% ao ano nos últimos cinco anos. Por sua vez, os ativos de previdência do tipo PGBL e VGBL atingiram R$ 659 bilhões, que já correspondem aproximadamente a 18% do patrimônio em ativos financeiros.
Mesmo que relevantes, este mercado possui forte potencial de crescimento nos próximos anos, especialmente considerando os desafios de longevidade e assistência social para a população brasileira. Pesquisa da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) de 2014 revelou que dois terços dos brasileiros não possuem qualquer precaução financeira para
imprevistos.
A combinação inteligente de investimentos com seguros deve ajudar a mudar esta realidade, especialmente quando contratados de forma consciente e adequada. As instituições financeiras nestes mercados disponibilizam soluções complementares e convergentes, que são elementos importantes para o investidor dotado de visão estratégica e abrangente.
Marcelo Picanço é diretorgeral de negócios financeiros, investimentos, vida e previdência da Porto Seguro
Email:
marcelo.picanco@portoseguro.com.br
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FONTE:http://www.valor.com.br/financas/4912134/seguro-de-vida-complementa-estrategia-de-investimento