Dólar e juros futuros voltam a registrar alta com incerteza política

Depois do alívio da sexta­feira, os mercados de câmbio e renda fixa voltaram a sentir a pressão da persistente incerteza política. Os juros futuros de prazos intermediários negociados na BM&F não só anularam a queda da sessão anterior como superaram os níveis alcançados no fim da quinta­feira, quando os mercados foram tomados por uma onda de zeragem de posições. O dólar fechou em alta de 0,60%, a R$ 3,2749. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2021 avançou para 11,55% ao ano, ante 11,17% no último ajuste e acima dos 11,39% de quinta­feira. Em outra evidência da percepção de risco ainda latente, a inclinação entre os contratos DIs com vencimento em janeiro de 2021 e janeiro de 2019 voltou a bater recorde, indo a 1,28 ponto percentual. Ou seja, o mercado elevou o retorno extra pedido para aplicar em vértices mais longos. A percepção é que o noticiário de fim de semana indicou mais pressão sobre Michel Temer. Há avaliações de que a postura combativa do presidente amplia riscos de mais demora na resolução da atual crise política, o que mantém travada a agenda de reformas. Por isso, ainda não há consenso claro no mercado em relação ao melhor cenário para os negócios. Mas, na margem, tem crescido o número de agentes financeiros que veem na renúncia de Temer a melhor solução. Uma renúncia seria a saída mais honrosa, segundo esses profissionais, que apostam na eleição indireta de uma autoridade com capacidade para reativar a agenda de reformas. O profissional de um banco em São Paulo diz que a ansiedade do mercado por resolução da crise hoje reflete anseios de troca de comando. A saída do peemedebista e a escolha de um representante de sua base aliada, em eleição indireta, seria o cenário mais favorável ao mercado e poderia reestabelecer as iniciativas reformistas antes da próxima eleição, em 2018. "O mercado fica muito apreensivo quando vê que o presidente, fragilizado, procura resistir e ainda não discute uma alternativa", diz. Na avaliação do profissional, "a necessidade de reformas é mais importante do que o nome de quem está liderando o processo". Um indicativo do incômodo com a decisão de Temer de não renunciar pôde ser visto já na quinta­feira, quando os ativos sofreram o primeiro grande ajuste após o estouro da crise. Às 16h do pregão de quinta ­ antes do pronunciamento de Temer ­, o dólar operava em alta de 6,67%. Após Temer afirmar que não renunciaria, a moeda acelerou a alta, fechando com ganho de 8,06%, o mais forte em 18 anos. Para o gestor de multimercados de uma casa em São Paulo, o presidente perdeu credibilidade para negociar com o Congresso as pautas econômicas ­ principalmente a reforma da Previdência, que já enfrenta resistência da sociedade civil. E essa situação torna mais melindroso o processo de negociação com os parlamentares. "O mais importante agora é que venha alguém do Congresso com força para fazer essas negociações", afirma esse gestor, que vê rali "expressivo" nos mercados caso o presidente renuncie. Ele estima 80% de probabilidade de Temer não encerrar seu mandato. Dado o grau de incerteza, esse gestor tem construído posições que se beneficiam da alta do dólar, do cupom cambial (juro em dólar) e do Credit Default Swaps (CDS, derivativo que funciona como uma espécie de seguro contra calote). Por outro lado, está "levemente aplicado" em juros ao longo do primeiro semestre de 2018, ainda vislumbrando o ciclo de alívio monetário. "No líquido, estamos levemente otimistas. Mas apenas levemente." Já o profissional de tesouraria de um grande banco na capital paulista não mostra tanta convicção sobre a saída de Temer ser a melhor solução. "A agenda dele é correta, e os políticos se dão conta de que não há plano B. Portanto, com ou sem Temer não vejo mudança na política econômica", afirma.

 

Fonte:

http://www.valor.com.br/financas/4977186/dolar-e-juros-futuros-voltam-registrar-alta-com-incerteza-politica#